terça-feira, 4 de agosto de 2009

Rio e Minas - a viagem

Saímos de Belém na madrugada do dia 17/06 rumo ao Rio de Janeiro, de avião. Carregava na bagagem açaí, camarão seco, farinha de tapioca, tudo a pedidos dos parentes. Fiquei hospedado na casa de parentes e matei a saudade de todo mundo. No mesmo dia à tarde fui buscar a moto na transportadora e estava extremamente suja. A primeira providência no outro dia de manhã foi encontrar um lava jato. Ficamos até o dia 23/06 e acompanhados de parentes visitamos o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar, a Praia de Itacoatiara em Niterói, entre outros lugares no Rio.
Do Rio visitamos Petrópolis e Teresópolis. Petrópolis fica a 70 km do centro do Rio, subindo pela BR-040 e cortando a mata atlântica, pelo chamado Caminho do Imperador, porque o imperador D. Pedro I neste lugar comprou uma fazenda, chamada Córrego Seco, onde atualmente se encontra o centro histórico da cidade. D. Pedro II anos depois cria um projeto para povoação do lugar, que se tornou a primeira cidade planejada do Brasil, e em 1843 por decreto imperial a cidade foi criada. Inicialmente colonizada por imigrantes alemães, a cidade até hoje guarda com muito carinho as memórias da família real, materializadas no Museu Imperial, uma visita imperdível. (Saiba detalhes sobre a história de Petrópolis em http://www.achetudoeregiao.com.br/RJ/petropolis/Historia.htm).
Em Petrópolis visitamos ainda a Casa de Santos Dumont e o Palácio de Cristal. É uma cidade muito bonita, cercada de muito verde e com um clima maravilhoso. No caminho pode-se avistar uma formação rochosa chamada de “O Dedo de Deus”. No mês de julho o clima é muito bom, friozinho, na faixa de 18º. Mas mesmo no verão, não faz calor em função da localização.
Visitamos também Teresópolis, uma cidade muito tranqüila. Visitamos a Granja Comary, onde treina a seleção brasileira de futebol e também passeamos por uma feira de artesanato tradicional, a FEIRARTE. Passeamos por entre as barracas sentindo vontade de comprar muita coisa.
O GPS ajudou bastante para andar no Rio de Janeiro. Foi uma “mão na roda” como se diz. Sem o GPS perderíamos muito tempo e ficaríamos dependentes dos outros, ou de transportes como táxi e metrô. Com a moto pudemos passear muito mais e otimizar nosso tempo, assim como aproveitar o clima maravilhoso, reunindo frio e sol.
Em nossa estadia passamos uns três dias na Barra da Tijuca, bem perto da praia. Este bairro é maravilhoso, totalmente diferente do que se pensa sobre o Rio, cheio de favelas, meninos nas ruas etc. Não me senti inseguro em nenhum momento na Barra, além de ter achado as ruas e o trânsito muito bons. É um bairro com excelente infraestrutura, com vários shoppings.
No dia 23/06 partimos para Paraty, que fica a 249 km do Rio, passando por Angra dos Reis (152 km do Rio). Saindo do Rio pela Av. Brasil, seguimos pela rodovia BR-101 (Rio-Santos). Esta rodovia é uma das mais bonitas do Brasil, muito bem pavimentada e com bastantes curvas. A rodovia acompanha o litoral e vemos o mar durante todo o percurso. É extremamente prazerosa a viagem e de uma visão que enche a alma. A vontade é de andar bem devagarzinho aproveitando a paisagem. O interessante é que em alguns trechos a mata se fecha e sentimos a mudança de temperatura, e mesmo não tendo chovido há dias, a pista se apresenta molhada pelo orvalho.
Almoçamos em Angra e depois fizemos um percurso pelo local seguindo pela Estrada do Contorno até chegar novamente à BR-101. Angra é uma península, cercada por praias maravilhosas, e essa estrada contorna toda a sua extensão, com uma visão extremamente bela das praias. É uma estradinha sinuosa, bem pavimentada, de mão dupla, com muitos quebra molas, e que por ser estreita em alguns trechos é difícil passar dois carros. Por isso é preciso muito cuidado. Em alguns casos, antes de entrar em uma curva, eu acionava a buzina, para avisar a um motorista adiante mais distraído de que um outro veículo entraria na curva em sentido contrário. Passei a fazer isso depois que um Corolla saiu de uma curva bem à minha frente na qual tomou todo o espaço. Se eu estivesse um pouco mais adiantado poderíamos ter batido de frente.
Chegamos a Paraty no final da tarde. Paraty era um entreposto comercial e sua criação data de 1560, e é o início do Caminho do Ouro. Seu Centro Histórico é considerado Patrimônio Cultural da Humanidade (UNESCO). Paraty é cheia de pousadas e logo na entrada você conta com um guia local que presta informações aos turistas. Uma coisa interessante é que ele anda em uma moto Biz e quando vê alguém de fora encosta para perguntar se precisa de alguma ajuda.
No outro dia fizemos o tradicional passei de escuna. Esse passeio dura 5 horas e normalmente abrange três ou quatro lugares diferentes; o preço varia entre R$ 30,00 e R$ 40,00 por pessoa. Em alguns momentos a escuna pára próximo à praia e os passageiros podem tomar um delicioso banho nas águas verdes de Paraty, e, inclusive, brincar com os peixes. Depois do passeio de escuna foi hora de conhecer o Centro Histórico da cidade. Caminhamos pelas ruas de pedras chamadas de pés-de-moleque. Essas pedras vieram de Portugal, fazendo lastro aos navios que depois voltavam carregados do ouro de Minas Gerais.
No Centro Histórico não entram carros, o que reforça a impressão de que estamos revivendo o passado ao caminhar pelas ruas, com as fachadas das casas restauradas. Dentro da maioria das edificações você encontra lojas de artesanato, bares, restaurantes, pousadas, bancos. Um ponto interessante são os ateliês ali existentes, com peças das mais charmosas. Os artistas locais são muito criativos e seus trabalhos envolvem quadros, peças de decoração, entre outros. Aproveitamos também para visitar a Igreja Matriz, de frente para o mar. Quando estivemos em Paraty ela estava fechada, mas foi possível observá-la e conversar com uma estátua viva que representa um escravo. Ele conta um pouco da história do lugar aos visitantes.
O Pier fica no final do Centro Histórico da cidade, e é onde ficam as escunas dos passeios. É possível chegar de carro até o píer sem entrar pelo centro da cidade, e existe até mesmo estacionamento pago. Mas uma dica é ficar em uma pousada fora do centro histórico, com estacionamento. Como tudo é muito perto, e as pousadas mais no centro e nas praias são mais caras, você pode ficar em uma pousada mais barata e ir andando. Ou pegar um taxi.
Depois de visitar Paraty partimos para São João Del Rei. No roteiro inicial nossa previsão era ir a Taubaté antes de São João Del Rei, mas tivemos que passar dois dias no Rio de Janeiro, e com isso Taubaté foi eliminada do roteiro, infelizmente. Paraty-São João foi o percurso mais cansativo e demorado da viagem, e também o único no qual pegamos chuva. O caminho mais natural seria a estrada que segue por Cunha, mas esta estrada não está em boas condições. Preferi voltar pela BR-101 e antes de Angra dos Reis pegar a RJ-155 passando por Barra Mansa. A RJ-155 foi recentemente recapeada e o asfalto está em ótimas condições. É uma estrada muito bonita e cheia de curvas. No caminho você passa por uns dois túneis, nos quais o piso é de paralelepípedo. Depois de Barra Mansa seguimos pela BR-116 e depois a BR-354, subindo a serra e passando por Itamonte. Aliás, esse percurso por Itamonte foi o mais sinuoso de toda a viagem. É uma estrada linda, curva atrás de curva, e sobe e desce o tempo todo. A paisagem lembra muito a Europa. Um trecho me chamou atenção porque me lembrou a entrada de Gramado, cheio de flores. A estrada muitas vezes fica sombreada pela mata que se fecha por sua cabeça, formando túneis de árvores. Sinto muito não ter parado para aproveitar melhor, até mesmo porque depois de Barra Mansa começou a chover. E a chuva, apesar de não ter sido forte, nos acompanhou até São João Del Rei.
Depois de Itamonte seguimos até Caxambu (BR-267), passando por Cambuquira até pegar a BR-381. Seguimos pela BR-381 até entrar na BR-265, que liga Lavras a São João Del Rei. Uma parte da BR-381 percorremos à noite. Não paramos em outra cidade porque já estávamos com a pousada reservada em São João Del Rei. O Pior trecho foi a BR-265. O início, na interseção com a B-381 é o pior. Foi feita uma operação tapa-buraco e a estrada está toda cheia de calombos. Não tem buraco, mas é calombo o tempo todo. Além do mais, o mato impera nas laterais da pista que não tem acostamento, e à noite a estrada é escura, não tem olho de gato. Sem falar que existe um tráfego intenso de caminhões à noite. Andei atrás dos caminhões mais de 100 km, com dificuldade de ultrapassar porque a visibilidade é zero. Então, com a chuva, você imagina a lama que o caminhão vinha jogando para cima de nós, além do frio. Cheguei imundo ao hotel, e teve um momento que tive de levantar a viseira para ver melhor porque estava toda suja.
Quando cheguei a São João Del Rei, no dia 25/06, eram 21:15h, depois de 12 horas de viagem. Minha primeira vontade foi tomar um banho e dormir, mas Eliane, que adora comer, quis jantar num restaurante próximo à pousada. No dia seguinte levei novamente a moto para um lava-jato e as roupas para uma lavanderia. Tive ainda que lavar os dois capacetes. Ficamos na pousada Estação do Trem, no centro da cidade e bem ao lado da estação do trem que faz o percurso São João Del Rei-Tiradentes. Mas por incrível que pareça não fizemos esse passeio. É uma viagem de apenas 30 minutos. A pousada é muito boa e está instalada num casarão antigo, construído em 1922. O café da manhã é servido no antigo porão, onde é possível observar a estrutura de paredes de pedra que sustentam a casa.
São João Del Rei foi fundada no final do século XVII e atualmente contrapõe o moderno e o novo, visto que é a cidade que mais se desenvolveu entre as cidades históricas mineiras. O passado está reunido basicamente no centro histórico da cidade. Na manhã do dia seguinte andamos pelas ruas do centro (ainda de paralelepípedos) e as igrejas e construções antigas. São João Del Rei atualmente é uma cidade com feições mais comerciais, ao contrário de Tiradentes, que é menor, porém melhor preservada e mais voltada para o turismo. Isso fez com que as pousadas de Tiradentes sejam mais caras, assim como a comida. Como a distância entre as duas cidades é de apenas 12 km, sugiro ficar em São João Del Rei e ir a Tiradentes de carro ou de trem para conhecer.
Em Tiradentes participamos do Festival de Motos Clássicas de Tiradentes, que reúne mais de 5.000 motociclistas de todo Brasil. A cidade fica lotada e é montada uma feira com roupas e acessórios para motos. Assim como standers de montadoras, como Honda, Harley-Davidson e BMW. Foi um evento muito bom, sem qualquer incidente. Gente de todo tipo. O que chamou a atenção de minha esposa foi a presença maciça de casais de motociclistas, vários deles de meia idade.
Durante o evento nos encontramos com outros dois casais, que conheci em fórum sobre motos na internet, o Alexandre e a Helen, e o Neto e a Gabrieli. Batemos um bom papo e depois caminhamos até uma pizzaria.
No dia seguinte acordamos um pouco mais tarde, fui buscar as roupas na lavanderia enquanto a Eliane arrumava acabava de lavar algumas roupas no quarto do hotel, e depois fomos direto para o encontro em Tiradentes. Passamos o dia inteiro observando as motos, fazendo compras. Fiquei maluco com a quantidade de acessórios, e, principalmente roupas, para motociclistas. Em minha cidade quase não temos opção para estes artigos. À noite fomos voltamos para São João Del Rei e jantamos no restaurante próximo ao hotel.
No dia seguinte, domingo (28/06), partimos com destino a Ouro Preto, mas antes paramos em Ouro Branco para encontrar com o Cláudio, outro amigo motociclista. Ele estava em um bar chamado Apertadinho, juntamente com outros motociclistas da cidade. Almoçamos com eles e fizemos logo amizade. Pessoas muito agradáveis e nos receberam calorosamente. Inclusive, tinha uma paraense no grupo, que havia ido morar em Ouro Branco há anos.
Se você estiver sem carro, ou fora de excursão, prefira pagar mais para ficar numa pousada perto do centro. Saindo do centro existem muitas ruas escuras e depois das 19h a cidade vai ficando mais deserta. Depois do almoço seguimos para Ouro Preto. Chegamos ao centro comercial e comemos antes de ir para a pousada. No outro dia, segunda-feira, visitamos as igrejas da cidade. Andar de moto em Ouro Preto foi um sacrifício. O centro da cidade é todo de ruas de paralepípedos, ou pedras não muito regulares, sem falar que ainda tem muitos quebra molas. Andava a todo tempo de 1ª ou 2ª marchas. Usei de toda minha habilidade para controlar a moto, ainda com garupa. E em muitos casos por pouco não caí.
Uma moto custom como a Shadow sofre bastante neste tipo de piso. A dona da pousada resumiu muito bem o que é andar por Ouro Preto: “em Ouro Preto quando não se está subindo, se está descendo”.
As igrejas de Ouro Preto são seu principal atrativo. São a expressão máxima de toda uma época, de um ciclo da vida brasileira. A religião, a Igreja, era parte integrante e de grande importância na vida em sociedade. O ouro, ao trazer prosperidade, também trouxe a capacidade de investir em igrejas com muitas obras ricas tanto esteticamente, como em simbolismos. Nas igrejas é comum a existência de guias de plantão, que são pessoas que por poucos trocados estão dispostos a explicar a história da igreja e suas imagens. Vale a pena pagar.
A cidade é uma volta ao passado. Mesmo a vista de cima da cidade dá a impressão que estamos olhando para uma outra época, em função das construções preservadas. O nome Ouro Preto derivou do fato do ouro não ser encontrado em forma de pepitas, como acontece em outros lugares, mas misturado a diversos outros minerais, como o ferro. Isso dava uma cor escura ao material do qual era retirado o ouro, daí a expressão ouro preto. Visitamos a Gruta da Lapa, que fica a 9 km de Mariana. A gruta possui cerca de vinte salas para visitação que são acessadas através de becos e buracos existentes no meio das rochas. Na entrada da gruta foi construída uma capela em homenagem à santa Nossa Senhora da Lapa, pois foi encontrada uma estátua da santa dentro da gruta. No caminho da gruta também existe a Mina da Passagem, que é uma mina de ouro ainda em funcionamento e aberta à visitação.
Na Rua Direita, a principal rua do centro comercial, pode-se comprar artesanato, jóias com pedras da região, que ainda são extraídas. Ouro Preto se mostrou uma cidade bastante pacata, ainda mais nesse período de inverno, no qual a temperatura convida a ficar em casa. Na praça principal, o Museu da Inconfidência é visita obrigatória.
Estando hospedados em Ouro Preto, visitamos Mariana e Congonhas. Mariana é bem pertinho (11 km). Você pode ir de carro ou de maria fumaça, em um passeio que dura uns 40 minutos. Congonhas do Campo fica a 55 km de Ouro Preto, e é onde estão as principais obras de Aleijadinho. O nome da cidade tem origem em uma planta medicinal que era muito encontrada naquela região. mas antes de chegar a Congonhas passamos por Ouro Branco, para visitar o Cláudio, amigo motociclista. Ele nos levou para conhecer o hotel Serra Palace, que dirige, e também a Serra de Ouro Branco. É um passeio imperdível a subida da serra. Do alto da serra tem-se uma vista incrível da região. Dá para ver a cidade toda e vislumbrar o horizonte.
Em Congonhas como já havia dito, a principal atração são as obras de aleijadinho, a estátua dos 12 profetas esculpidas em pedra sabão, no adro do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos. E também as capelas que representam os 6 passos da paixão de Cristo. Dentro estão as mais impressionantes obras de Aleijadinho. A riqueza de detalhes e toda a representatividade nas obras só podem ser conhecidas por meio de um guia. Portanto, procure um pelo local, não irá se arrepender. Ficamos hospedados 4 dias em Ouro Preto.
Depois de Ouro Preto fomos para Belo Horizonte. Chegamos a BH em uma quinta-feira. Para nossa surpresa, descobrimos que existe um culto da Igreja Batista da Lagoinha somente para motociclistas. Esta igreja tem um ministério intitulado Águias de Cristo. Fomos ao culto e confraternizamos com vários motociclistas evangélicos que oraram por nós e desejaram boa sorte. Em BH visitamos o Mercado Central, que fica no centro. No mercado vende de tudo, desde comidas a objetos de decoração. Em certos aspectos parece uma espécie de shopping, dada a variedade de lojas. É um mercado bem estruturado e organizado, com estacionamento pago, elevador e segurança. Aproveite para comer as empadas que vendem por lá. Ou então as frutas em compotas por quilo.
Visitamos ainda o Complexo da Pampulha, onde se encontram várias obras de Oscar Niemeyer, inclusive o Museu de Arte Moderna. A Lagoa da Pampulha é muito maior do que imaginei. Deitamos na grama atrás do museu, estava uma tarde ensolarada, e ficamos ali, conversando e ouvindo o barulho da cidade e dos pássaros. Uma coisa que nos chamou atenção foi a grande quantidade de “mansões” localizadas na avenida que contorna a Lagoa da Pampulha.
No sábado pela manhã visitamos a Savassi. É uma área no centro de BH onde se encontram diversas lojas, feiras e exposições. Lá se pode tomar um café nas livrarias que ali se encontram, ou ainda visitar várias lojas no entorno. Também visitamos a Feira de Antiguidades Tom Jobim. Fica numa rua extremamente arborizada e que por isso tem um clima gostoso. Nesta feira encontramos também várias barracas de comidas. No mesmo dia fomos conhecer a Gruta da Lapinha. É famosa por ter abrigado escravos fugidos. Como não sabia onde era, procurei o endereço na internet do hotel. Escrevi Gruta do Lapinha e, como estava com pressa, escrevi o endereço rapidamente. Programei no GPS e lá fomos nós. O GPS nos levou até a cidade de Betim, que fica a 29 km de onde estávamos. Quando chegamos ao centro, o GPS apontava que estávamos no local indicado. Intrigado, parei um traseunte e perguntei sobre a Gruta do Lapinha. Ele apontou para trás e disse: “você passou por ela, é ali, em cima das Casas Bahia. Eu retornei e quando parei em frente vi um toldo escrito “Restaurante Gruta do Lapinha”. Eu e Eliane caímos na risada ao perceber a burrice que havia cometido. Na pressa digitei no Google “Gruta do Lapinha”, quando o correto é “Gruta da Lapinha”, que fica em Lagoa Santa, em lado totalmente oposto. Rodamos mais 29 km de volta e mais 60 km para chegar à verdadeira Gruta da Lapinha.
Na noite de sábado fomos jantar com um casal que conhecemos na viagem ao Chile, o Gustavo e a Ludimila. Jantamos em uma churrascaria onde se concentram diversos botecos da capital mineira.
Domingo pela manhã fomos logo cedo à Feira de Artesanato da Afonso Pena. É uma feira grande, com barracas de confecções, móveis, arte, artesanato, comida etc. Nesta feira pode-se comprar por preços módicos e por isso mesmo ela fica lotada. A partir das 10h já fica difícil de andar. Depois de visitar a feira fomos ao Parque das Mangabeiras. É um parque grande, um dos maiores do Brasil, e fica na região metropolitana. O parque possui trilhas e um mirante de onde se pode observar a cidade. Dentro do parque existe um microônibus que circula por dentro do parque.
No dia 06/07, segunda, rumamos para Diamantina. No caminho paramos em Sete Lagoas para visitar a Gruta Rei do Mato e Cordisburgo para visitar a Gruta Maquiné. A Gruta Rei do Mato fica a 70 km de BH e para chegar até ela não necessita entrar na cidade. Ela fica às margens da BR-040, do lado esquerdo da pista. Para ter acesso tem que fazer o contorno no trevo. As formações rochosas da gruta são de mais de 600 mil anos atrás.
Em Cordisburgo paramos para conhecer a Gruta Maquiné. Para acesso é necessário atravessar a cidade, pela MG-231, e pegar uma estrada bonita, bem pavimentada que dá acesso à gruta. Para quem vai a Diamantina basta sair cedinho que é possível visitar as duas grutas e chegar ao final do dia para dormir em Diamantina. As visitações são pagas e acompanhadas por um guia.
O passeio pelas grutas superou minhas expectativas. O aprendizado sobre as formações rochosas, as imagens que a natureza cria ao longo de milhares de anos, coloca em outra perspectiva a vida em nosso planeta.
Chegamos a Diamantina de noite e nos hospedamos em uma pousada bem próxima ao centro da cidade. Era uma casa que foi transformada em pousada, bem aconchegante. Da janela víamos o centro e a serra em volta da cidade.
Foi Diamantina a cidade que mais nos encantou. A cidade tem um clima mais rústico e aconchegante, apesar de ser tão turística como as outras. Porém, Diamantina tem seu jeito próprio. É uma pena que, por ela ficar longe das outras cidades, muitas pessoas tirem-na de seus roteiros. A cidade tem esse nome por causa das minas de diamantes na região. Em nossa estadia, visitamos a Casa de Chica da Silva, escrava famosa que chegou a inspirar filme e música. Também conhecemos a Casa da Glória, que tem esse nome porque sua primeira proprietária se chamava Glória e foi uma figura de destaque na cidade.
Dica é fazer compras em Diamantina. As lojas no centro histórico são bem diversificadas e com preços bem populares, principalmente para jaquetas e roupas de frio.
Das cidades pelas quais passamos foi em Diamantina que senti maior dificuldade em pilotar. As pedras das ruas são muito mais irregulares. Estamos falando de pedras rústicas, não de paralepípedos. Essas pedras escondem por vezes depressões e buracos que podem desestabilizar a moto. Andava sempre de 1ª, e feliz da vida quando passava uma 2ª.
Comemos várias vezes numa lanchonete com atendimento muito caloroso. O nome do lugar é Café Mineirinho, e a dona é a Sra. Amália. Uma pessoa muito gentil. Fizemos amizade com ela e conversamos muito sobre a cidade e a região. O café, e os salgados e doces são de primeira.
Depois de Diamantina nosso próximo destino era Serra do Cipó. O caminho natural – e mais curto – seria por Serro, continuando pela MG-010, porém a estrada entre esta cidade e a Serra do Cipó é de terra. São uns 100 km de estrada de terra, e desta forma preferi voltar passando por Belo Horizonte. Também precisava fazer a revisão obrigatória na moto. Fiz a revisão na Otobai Motos, concessionária Honda. O pessoal foi super atencioso e foi bem rápido, mas com qualidade. Aproveitei para ajustar a suspensão traseira da moto, o que fez enorme diferença depois.
Saindo de Belo Horizonte para a Serra do Cipó, rodamos 86 km, passando por Lagoa Santa (MG-010). Paramos para abastecer em Lagoa Santa por volta das 18:30h. Lanchamos em uma panificadora anexa ao posto de combustível, pois tínhamos ainda 60km pela frente. Como era noite, a estrada que leva a Santana do Riacho estava completamente escura, porém um luar de tirar o fôlego iluminava as matas em volta, e, por detrás dos morros, delineava com sua luz as formas que a natureza esculpiu. Juntamente com o farol da moto jogando sua luz sobre a estrada, fazia uma imagem que teima em não sair de minha lembrança até hoje.
Aqui vale uma explicação. Serra do Cipó na verdade é uma região, não uma localidade. Nesta região estão localizados os municípios de Jaboticatubas, Conceição do Mato Dentro e Serro. A entrada para a Serra do Cipó fica na localidade de Santana do Riacho. É nesta localidade que se concentram a maior parte das pousadas.
Apesar da região ser cercada por muito verde, e ser época de inverno, o clima não estava muito frio, por volta de 18 graus. Durante o dia a temperatura variava muito, e debaixo do sol fazia calor. Ficamos hospedados na pousada Shangrilá, com preço atrativo e serviços muito bons. Seu proprietário, Álvaro, ajuda aos hóspedes com dicas de roteiro e informações sobre serviços.
A Serra do Cipó é um lugar de beleza ímpar. As águas são puras e cristalinas. Em decorrência do relevo acidentado, é muito comum a formação de cachoeiras, cânions, grutas, gargantas sinuosas e piscinas naturais. Durante dois dias fizemos os passeios principais, mas o ideal é ficar pelo menos três dias. No primeiro dia fizemos uma trilha de 28 km (ida e volta) para o Cânion das Bandeirinhas. Para tal alugamos duas bicicletas na entrada do parque, para nosso arrependimento futuro. Poderíamos também ter alugado cavalos, ou ido a pé. A pior alternativa é a bicicleta e descobri isso da pior maneira. Metade da trilha é de areia fofa, o que nos forçava a descer da bicicleta. Em alguns pontos da trilha existem córregos e até mesmo um rio. Na parte em que o terreno é bastante acidentado, que era mais da metade do caminho, a bicicleta se tornou um estorvo, pois tínhamos que carregá-las ou empurrá-la o tempo todo.
Nas trilhas da Serra do Cipó é imprescindível carregar um bom protetor solar, repelente para insetos, água e comida. As caminhadas duram horas e você vai ficar com fome rapidamente.
Depois de quase 4 horas de caminhada, chegamos ao Cânion, juntamente com um casal que conhecemos na entrada do parque. Que bela visão. Infelizmente não tinha levado sunga de banho, mas tinha que entrar na água. Era muito convidativa. Mesmo estando a água muito fria, tirei os sapatos e a camisa e tomei banho de calça jeans.
Na volta, já cansados, vínhamos contando os minutos para chegar à portaria do parque. Mas mesmo assim, felizes, porque as paisagens no caminho são inesquecíveis.
A essa altura da viagem, eu já estava mais gordo. A comida mineira é muito saborosa, e gordurosa na mesma proporção. O torresmo, o arroz mineiro, a comida servida em fogões à lenha, são um extremamente convidativos. Destaque também para os doces. Os mineiros são mestres na arte de fazer compotas. Você encontra compota de vários tipos e de várias frutas, e em todo restaurante tem como sobremesa. Para quem gosta de beber tem ainda a cachaça mineira, que é famosa.
No dia seguinte, pela manhã, visitamos a Serra Morena. A entrada para a Serra Morena fica à beira da MG-010 saindo de Santana do Riacho. Depois de andar 5 km por uma estrada de terra, chega-se ao portão de acesso. Neste local conhecemos a Cachoeira Morena. Belíssima. Ainda pela manhã conhecemos a Cachoeira Véu de Noiva, com uma queda d´água muito bonita também. Esta cachoeira fica dentro de uma propriedade privada, onde tem camping, restaurante, piscina natural.À tarde conhecemos a Cachoeira Grande e mais três cachoeiras menores que ficam no caminho. O acesso para as cachoeiras é pago, com valores variados.
As estradas de terra em Minas Gerais têm uma peculiaridade. Como o terreno é extremamente pedregoso, há formação de muito cascalho na estrada. Então derrapar em uma estrada dessa não é difícil. Para piorar, existe muito aclive e declive. O motorista tem ainda que se preocupar com as pontas de pedras que são comuns e aparecem de uma hora para outra. Por isso o cuidado tem que ser redobrado. Nas descidas o motociclista tem que descer engrenado, sempre. E evitar usar o freio dianteiro.
No dia seguinte, com muita tristeza, porque adoramos o lugar, fizemos as malas e dirigimos 456 km para chegar a Araxá. Chegamos na cidade no final de sábado, e a cidade estava muito calma. Ficamos bem instalados e bem localizados no hotel Morada do Sol.
Araxá nos surpreendeu. É uma cidade bem cuidada, maior do que eu pensava. Porém, os moradores conservam os hábitos de cidade pequena, interiorana. Prova disso é que nenhuma loja comercial funciona aos domingos, mesmo nas férias. A grande atração de Araxá são suas águas hidrominerais, e o Ouro Minas Grande Hotel. Mas também é possível conhecer o Museu Dona Beja, que contém um pouco da história desta mulher que foi muito influente na cidade no século XIX e que inspirou até uma minissérie.
Ficamos somente um dia em Araxá e seguimos viagem para Brasília. Foram mais 600 km de estrada, inicialmente pela BR-146 e depois subindo em direção a Brasília pela BR-040. Chegamos a Brasília por volta das 17h. Teríamos chegados antes, se não fosse pelos desvios na estrada em função de obras. Algumas tempo algumas retas que não terminam convidam a subir mais os giros do motor e testar a estabilidade da moto. Cheguei a andar a mais de 140 km/h, sentindo muita estabilidade, porém não quis correr mais por questões de segurança. É um caminho que possui muitas retas, e com boa pavimentação, o que ajudou a manter a velocidade de cruzeiro. Notamos a mudança no clima e na vegetação, que vai se tornando mais quente e seco.
Como não tínhamos feito reserva em hotel, fomos direto a um shopping para usar a internet e um telefone público. Não conseguimos hospedagem nos hotéis do centro, em virtude de um evento com prefeitos e diversas cidades no Brasil. Então tivemos que nos hospedar em Taguatinga, que fica a 30 km de Brasília. Chegamos no hotel, chamado Atividade por volta das 22h, cansados. O hotel era bem simples, quase uma espelunca, e percebemos que funciona também como um motel. No outro dia fomos ao aeroporto para despachar as bagagens. Feito isso, visitamos o Planalto dos Ministérios, tiramos fotos na Catedral de Brasília e outros lugares conhecidos. A cidade não oferece muito além das obras de Niemeyer para conhecer. Pessoalmente, acho a cidade sem graça. Porém, valeu a pena conhecer o Pier 21, que fica à beira do Lago Paranoá. Não pensei que o lago fosse tão grande.
Dirigir em Brasília é muito fácil, as ruas são largas e bem pavimentadas, o trânsito flui facilmente. Porém, existe um excesso de radares, o que reduz em muito a velocidade dos carros, mas ao mesmo tempo se torna uma direção cansativa, porque temos que estar sempre atentos à velocidade máxima permitida.
Ao final da tarde levamos a moto para a transportadora e comemos na melhor panificadora que eu já conheci, a Pão Dourado. Dentro existe muita opção de doces e salgados. É possível tomar diversos caldos, e ainda preparar seu próprio sanduíche. Adorei em especial os folhados por kg, nos sabores Morango, Maçã e Banana. Comemos muito, tanto que não quis comer nada no avião horas depois.
Depois disso fomos a um shopping e assistimos à Era do Gêlo 3. Terminado o filme, pegamos um taxi para o aeroporto. Chegamos a Belém de madrugada, e no outro dia já tínhamos que trabalhar. Bateu uma tristeza. Fechadas as contas, rodamos 4.200 km em 27 dias. Saudade da viagem, e da moto também. Já estou pensando no próximo destino.

Um comentário:

Paulo André disse...

Charles,

Gostei da sinopse da viagem, muito bom, na próxima quando eu estiver mais experiente, não deixe de convidar, podemos fazer um roteiro deste no nosso estado mesmo!

abraços e parabéms pelo blog nota dez