terça-feira, 29 de setembro de 2009

I Encontro Motociclista Cidadão

O encontro Motociclista Cidadão foi um sucesso. Houve muita confraternização entre membros de diversos moto clubes. Além dos shows de bandas locais, o Expedicionários da Amazônia fez rapel com a galera (até eu criei coragem para entrar nessa).
O grande mérito do encontro foi gerar mais entrosamento entre os diversos moto clubes da cidade, e ao mesmo tempo gerar conscientização para a segurança no trânsito.
Cada moto clube tinha seu próprio espaço para divulgação de suas atividades, com destaque para o Expedicionários da Amazônia que possui um bonito trabalho social desenvolvido.
Os Abutres destacaram-se pela barraca de venda de botons e acessórios para motociclistas, além, é claro, das motocicletas mais exóticas (característica do grupo).
O show da banda Hannover fechou o evento, ao som de Born to be Wild.
Depois do evento o Pará Motoclube se reuniu para bater um gostoso papo no Parmeggio da Brás de Aguiar.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Para os que se foram

Nas últimas duas semanas dois motociclistas conhecidos se foram. Ao considerar os últimos dois meses foram três. São eles Fernando Arquimedes, presidente do Pará Moto Clube, Glauco Ângelo, do moto clube Carcarentos de Imperatriz e Álvaro Larangeira, gaúcho que morava em Maceió, motociclista muito experiente e com dois livros escritos sobre motociclismo. (As fotos estão na sequência dos nomes).
O Fernando morreu de ataque cardíaco e o Glauco e o Álvaro de acidente de moto. O mais velho tinha 55 anos apenas (Fernando).
Infelizmente eu estava presente quando Glauco foi considerado morto na rodovia TO-222 em Tocantins (detalhes em outra postagem no blog). Álvaro morreu na manhã do dia 14/09 (segunda-feira) e na noite do dia anterior eu tinha conversado com ele ao telefone. E também tinha conversado com Glauco duas horas antes de seu acidente. Todos eram ótimas pessoas, pais de família.
Essas recentes perdas me fizeram pensar muito a respeito dos riscos de andar sobre duas rodas, e mais ainda sobre a fragilidade da vida. Uma coisa que diminui a tristeza com a morte do Álvaro é que ele já tinha declarado que se morresse dirigindo uma moto morreria feliz. É claro que ninguém fica feliz ao morrer, mas o que ele quis dizer é que preferia correr o risco a deixar de viver o que ele amava. Álvaro era assim mesmo. Preferia viver o que tinha que viver, a se amedrontar atrás de uma pretensa segurança. Álvaro saiu de Porto Alegre para viver um grande amor, uma moça que havia conhecido ainda muito jovem e que o destino separou. Eles se reencontraram e ele resolveu ir atrás de sua felicidade. Mudou de cidade, de emprego e preferiu viver a se esconder atrás do medo.
Fernando Arquimedes viveu também um grande amor, com sua esposa Edna. E ela é a única pessoa que não deixará ninguém ocupar sua cadeira em sua casa. Para a Edna o Fernando é único. Se ele tivesse deixado seus compromissos de trabalho interferirem nisso, que tipo de troca ele estaria fazendo? Ele também se dedicou ao motociclismo, que foi sua outra paixão. Fez por amor, isso lhe deu prazer. Não foi por status ou para conhecer um monte de gente.
Ao saber da morte de Álvaro fiz várias reflexões. Na noite anterior ele estava tão feliz de ir viajar, parecia muito bem consigo mesmo. Quem poderia imaginar que aquela seria sua última noite? É isso mesmo, estamos à beira de um precipício todos os dias. Um passo em falso e caímos. Não enxergamos este precipício, mas ele está lá, sempre.
Esquecemos tantas vezes de viver, fazemos tantas coisas para agradar aos outros, deixamos de ser quem nós somos, a troco de quê? Um dia isso não fará a menor diferença e aqueles que mais nos condenaram, que mais tentaram conduzir nossas vidas, simplesmente nem se lembrarão de nós. Passadas duas semanas no máximo essas pessoas nem falarão mais em nossos nomes.
Por isso não vale a pena deixarmos de ser quem somos, deixar de viver o que temos que viver. A nossa vida é só nossa, só nós sabemos nossas necessidades, aquilo que nos faz feliz. Um dia satisfazer a uma ou outra pessoa, ou à nossa comunidade, não fará diferença nenhuma para nós. Seremos apenas um retrato na parede, ou uma lembrança guardada.
Fernando fez o que gostava de fazer, Glauco também e Álvaro ainda mais. Se morreram antes do tempo, é a fatalidade. Fernando morreu de ataque cardíaco, mas poderia ter morrido de acidente de moto, ou câncer, ou acidente de avião. Não importa muito tudo isso, a morte é uma certeza, acontecerá em um dia ou no outro.
O que importa é que se temos essa vida – por mais curta que seja – resta-nos vivê-la pelos nossos valores, termos a coragem de fazer o que devemos fazer. Porque ao final nada fará diferença.
Lutamos e nos desgastamos para ter um cargo, status, e por causa disso nos tornamos insanos. Deixamos de fazer o que gostamos. Todos três trabalhavam, eram profissionais ainda em atividade. Em uma semana, ou menos, um outra pessoa já estará ocupando a cadeira no trabalho, dando novas ordens, e dizendo frases de efeito do tipo "...agora na minha gestão..."; "...vou estabelecer um novo ritmo de trabalho a esta função..."
Estas pessoas, invariavelmente, tentarão ser melhores do que os que se foram, e muitas vezes tentarão apagar as lembranças daquele que se foi.
Aquele que morre torna-se livre, porque não tem mais a quem prestar contas, não tem mais que lutar por nada, não tem mais o sofrimento ou a alegria. Digo isso porque mesmo a alegria e o amor é uma prisão. Se somos alegres, lutamos cada dia para continuar a sê-lo; assim como, se sofremos, passamos a vida toda lutando contra o sofrimento. Somos então prisioneiros do amor e da dor.
A morte então nos liberta, porque não sofremos mais as conseqüências de nada. Não temos que temer nada. Nada importará a quem morre.
E então? Simplesmente passei a entender mais ainda que acumular muita riqueza, preocupar-se exageradamente com o futuro, é tão inútil. Como diz a Bíblia: "Não vos inquieteis com o dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. O futuro cuidará de si mesmo! "Basta a cada dia (hoje) o seu mal. Ao homem cabe-lhe o dia de hoje". (Mat.6:34). Você pode acordar hoje e não ter um "amanhã". O futuro não existe. Ele é apenas uma vontade nossa. Queremos que ele seja assim, ou assado. Mas ele será como terá que ser, independente de nossa vontade.
Sem querer, Álvaro, Glauco e Fernando me deixaram uma lição a ser aprendida, e a oportunidade de um momento de reflexão. Sem querer eles me fizeram mais livre, porque me importo menos com coisas que não deveriam me preocupar. Eu hoje me importo menos com o que os outros pensam, e mais com o que eu gosto de ser.
Gostaria de agradecê-los por isso, mas minha única forma de agradecer é a lembrança destas pessoas. Que fiquem em paz com Deus.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

I Encontro Motociclista Cidadão

SEMANA NACIONAL DO TRÂNSITO 2009
Tema: Educação no Trânsito
Acontecerá no dia 26 de setembro de 2009, de 9h às 17h, na Aldeia Cabana, na Av. Pedro Miranda, o I Encontro Motociclista Cidadão.

Durante este encontro haverá uma rica programação envolvendo shows, mini palestras, exposição de motocicletas, entre outras ações. Grande parte dos moto clubes de Belém e imediações estará presente. Também haverá moto passeio para congregar todos os motociclistas. Cada moto clube terá um espaço para promover suas atividades e o público poderá interagir com os motociclistas.

Quem pode participar

- motociclistas de todos os estilos e idades;
- admiradores e aficcionados por motocicletas;
- pessoas que querem saber mais sobre segurança no trânsito;
- interessados em ingressar no mundo das duas rodas;
- público em geral.

Programação
  • Exposição de motocicletas e equipamentos de segurança.
  • Show artístico e cultural
  • Bandas de rock
  • Lava moto
  • Escolha da garota motociclista
  • A motocicleta mais antiga
  • A mais bonita
  • A mais decorada
  • O motociclista mais antigo
  • Check up grátis nas motocicletas
  • Mini palestras:
    • mecânica de motos
    • primeiros socorros
    • curiosidades sobre motociclismo
    • prevenção de acidentes
  • Sorteio de equipamentos de segurança e distribuição de brindes
  • Desconto em peças e acessórios durante a Semana Nacional do Trânsito
  • Distribuição de material educativo
  • Atividades lúdicas com crianças promovida pela CTBel e DETRAN
Promoção: Associação Paraense de Motociclistas - ASPAMOTOS

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Viagem a Araguaína e Carolina


Minha filha Lorena (17 anos) adora motos, e sempre se ressentiu de nunca ter feito uma longa viagem. Reclamava sempre que esse era um privilégio de sua irmã mais velha, a Érika. Muito bem, como eu também gostaria de fazer uma viagem com ela, afinal seria um momento perfeito para ficarmos juntos e ao mesmo tempo curtir uma coisa que os dois gostam, convidei-a para ir ao 6º Encontro Motociclístico de Araguaína. Ela topou na hora, como eu já esperava.
Mas, antes, fiz questão de fazer contato com os membros do Falcões de Aço, moto grupo organizador do evento. Sabia que o moto grupo é bastante familiar e preparei o terreno para que a Lorena não se sentisse sozinha. E funcionou melhor do que eu esperava. Ela rapidamente fez amizade com as filhas e filhos dos integrantes do moto grupo. O que me deixou aliviado, afinal era uma viagem para os dois. Ela se entrosou muito bem principalmente com a Zyhanne, filha do Genivaldo (apelido "general"), integrante do Falcões de Aço. Elas ficaram muito amigas e não se separavam nunca.
Araguaína fica cerca de 840 km distante de Belém, no estado do Tocantins. Possui 130.000 habitantes. O clima é quente, sendo que nos meses de dezembro a junho é o período mais chuvoso. Araguaína não tem mar, mas tem um rio que banha a cidade, o rio Tocantins. E também tem um lago muito bonito chamado Lago Azul. Aliás, não sei por que este nome, porque o lago não é azul.
Saí de Belém às 5h37, de Honda Shadow 750. Nossa previsão era chegar à Araguaína até 17h, mas não foi possível, em função de problemas com combutível adulterado (conto melhor sobre isso depois).
Para que a viagem não se tornasse cansativa, fiz paradas em média a cada 150 km, aproveitando para abastecer a moto e esticar as pernas. Almoçamos em Dom Eliseu, no restaurante Roda Viva (S 4.31328º, O 47.55264º). O proprietário do restaurante que fica no posto, de nome Carlos, conversou puxou conversa comigo e fez questão de mostrar seu cavalo, muito bonito por sinal e orgulho do proprietário. Disse-me ele que chegaram a oferecer R$ 70 mil no cavalo e ele não quis vender. Acredito, pois este tipo de animal tem um preço alto mesmo.
Não choveu em nenhum momento durante a viagem, e a roupa impermeável que estava vestindo por precaução cobrou seu preço debaixo do calor da região. E também, depois que cheguei a Araguaína, o suor dentro da calça impermeável gerou uma coceira danada pelas pernas e na altura da cintura. Parecia que estava com micose. Essas calças não são feitas para climas quentes.
O calor excessivo me tirou qualquer vontade de parar para bater fotos da estrada na viagem de ida. A única vez que tentei, na entrada de Açailândia, bastou parar a moto para ver que um segundo sequer debaixo daquele sol escaldante seria terrível.
Para sair de Belém a única estrada é a BR-316. Depois de Castanhal, lá pelo km 100, dobramos na BR-010 (Belém-Brasília) à direita no trevo após o posto da Polícia Rodoviária. Seguindo pela BR-010 são mais 480 km até Imperatriz. Esse trecho é de enormes retas, ao olhar o mapa do roteiro dá para perceber isso. A estrada está em boas condições e dá para correr se você tiver a coragem necessária para isso. No meu caso, minha velocidade não ultrapassava os 120 km/h, a bem da segurança. 
O Ranieri, do Falcões de Aço, sugeriu que eu pegasse a balsa em Imperatriz e evitar passar por um trecho de muitos buracos depois de Darcilândia. Assim eu fiz. Ao chegar em Imperatriz, peguei uma balsa e segui novamente viagem pela rodovia estadual TO-409, até Axixá do Tocantins. A travessia por balsa é muito rápida e paguei R$4,00 pela moto. A TO-409 está ótima, sem muito tráfego, com grandes retas. Mas infelizmente, como não sabia que existiam dois caminhos possíveis, peguei a BR-230, ao invés da rodovia TO-134, que passa por Ananás. Desta forma, acabei passando pelos 23 km de buracos do mesmo modo e ainda perdi tempo.
Cheguei a Araguaína às 20h13. Foram 14 horas de viagem (ufa!). O trecho ruim foi depois de Darcilândia, com 23 km de buracos, e ainda à noite. Em certo momento passei para o acostamento (se é que se podia chamar aquilo de acostamento) para fugir dos caminhões que faziam zigue-zague à minha frente. Quando tentei voltar para o asfalto (se é que se podia chamar aquilo de asfalto), a diferença de nível me fez tombar com a moto. Nada de mais, só o susto. A moto não sofreu nenhum arranhão, apenas eu com um pequeno ferimento na perna.
Fiquei extremamente chateado por ter comprado gasolina adulterada no posto de combustível Roda Viva em Dom Eliseu. Senti-me feito de otário. A vontade que deu foi arrebentar com a cara do dono do posto. Esse camarada devia ser preso, por causar tantos prejuízos aos motoristas. Não tem escrúpulo nenhum. Quando cheguei em Imperatriz a moto começou a falhar, até o momento em que parou. Desconfiei imediatamente que se tratava de gasolina adulterada, pois quando saí de Dom Eliseu percebi que a moto perdeu potência. Com muita dificuldade fui  até o posto de gasolina mais próximo, esvaziar completamente o tanque e colocar gasolina nova. A moto voltou a funcionar normalmente e eu segui viagem. Quando chegou na TO-409 o motor começou a engasgar, tive que parar algumas vezes e esperar ela pegar de novo. Aí bateu o medo. Esta estrada é quase deserta, e não tem sinal de celular. Seu eu ficasse no prego ali seria muito complicado, de nada adiantaria o seguro que fiz para estas ocasiões. Comecei a pensar que o problema poderia não ser a gasolina. Podia ser outra coisa, como filtro de gasolina entupido, bomba de gasolina falhando etc. Mesmo com o motor engasgando em alguns momentos, resolvi seguir em frente, afinal ficar ali não era a melhor opção. Quando cheguei a Darcilândia abasteci novamente e coloquei um aditivo para gasolina, o que melhorou bastante. Aí tive certeza que o problema era a gasolina.

Finalmente Araguaína
Foram 880 km. Quando cheguei em Araguaína fui direto para a casa do Ranieri, mas não tinha ninguém em casa. Telefonei a ele e mandou dois membros do grupo encontrarem comigo. Eles me levaram a um hotel e depois de deixar a bagagem no quarto fomos comer sanduíches e bater papo.
O evento foi muito bom, mas o calor era infernal, por volta de 39 graus. Com o calor e o tempo seco a vontade é de beber água o tempo todo. Acho que nunca tomei tanta água em tão pouco tempo na minha vida. A todo momento sentia sede. Bebi até cerveja, eu que não sou de beber. Acho que com aquele calor valia tudo que fosse líquido (rs).
Fiquei feliz em conhecer os membros do Falcões de Aço. É um grupo bastante coeso e familiar. Os familiares dos membros vestiam camisas do moto grupo, inclusive as crianças. Achei isso muito legal e uma demonstração de preocupação com a família. Eles me receberam muito bem, foram muito gentis e se colocavam à disposição da gente o tempo todo.
No dia seguintes fomos conhecer a oficina mecânica de motos do Elder, que é presidente do Falcões de Aço. Almoçamos no Grill Tropical, churrascaria ao final da Rua Cônego Lima, no centro da cidade, e quase em frente à oficina do Elder. A comida é boa, e o preço não é salgado. Elder é um mecânico de mão cheia, e um mostrou-se um bom líder do grupo, consciente de seu papel.
Participaram do evento motociclistas de 5 estados diferentes, entre eles os Carcarentos de Imperatriz (MA), os Lentos do Asfalto de Castanhal (PA) e também motociclistas de Parauapebas (PA).
O evento contou com a cobertura da rádio e televisão local. Fomos entrevistados por ambos os veículos de comunicação, com reportagem para todo o estado do Tocantins. Uma boa divulgação.
Uma coisa que me chamou atenção em Araguaína foi a grande quantidade de motos. É moto para tudo quanto é lado. Ao andar pelo centro da cidade notamos filas de motos estacionadas nas ruas. O mais interessante é que em grande parte são motos 125cc e muitas são Honda Biz. Não sei por que a "tara" desse pessoal por Honda Biz se pelo mesmo preço, ou até menos, pode-se comprar uma Suzuki Yes. Um vendedor da Honda que estava num estande no evento comentou que Araguaína é a terceira cidade em vendas no Brasil. Achei o número meio exagerado, mas não duvido.Um outro ponto interessante é que muitos proprietários de Honda Biz procuram personalizar suas motos, com decalques, luzes neon, rodas coloridas e até suspensão a ar.
Araguaína me surpreendeu pelo tamanho. É uma cidade grande, estruturada. A pavimentação das ruas é um ponto fraco, mas o comércio local parece próspero e a localização da cidade permite aos motociclistas grande mobilidade para realizar passeios, encontros e chegar aos grandes centros sem muita dificuldade.
O autêntico desenvolvimento econômico-social do município começou na realidade a partir de 1960, com a construção da rodovia Belém-Brasília. No período de 1960 a 1975, Araguaína atingiu um estágio de desenvolvimento sem precedentes na história do Estado de Goiás.
Araguaína era a quarta maior cidade do Estado de Goiás, de 1980 a 1986, perdendo somente para Luziânia, Anápolis e Goiânia. Com a criação do estado de Tocanitns em 1989, Araguaína tornou-se a maior cidade do Estado e pretensa capital do Estado que estava nascendo, não foi escolhida devido a fatores geográficos, sociais e políticos, mas ganhou o carinhoso título de Capital Econômica do Estado, sendo atualmente a principal força econômica do Estado.
Fatalidade
Apesar de tudo ocorrer muito bem, uma fatalidade marcou o evento. No sábado à tarde fomos em caravana recepcionar um grupo de motociclistas vindos de Parauapebas pela rodovia estadual TO-222. Esperamos por eles em um posto de gasolina na localidade de Carmolândia, a 36 km de Araguaína. Enquanto esperávamos, dois motociclistas do Carcarentos de Imperatriz, o Glauco Ângelo e o Guilherme, resolveram voltar para Araguaína, alegando cansaço. Cerca de 30 minutos depois chegaram os outros motociclistas e retornamos pela rodovia TO-222. Logo depois de passarmos por um aclive, notei que havia um carro parado no acostamento no sentido contrário e algumas pessoas na pista. Pensei logo que um acidente envolvendo um carro tinha acontecido. Mas não era um carro, mas duas motos que estavam acidentadas, justamente as motos do Glauco e do Guilherme. Os dois estavam caídos no asfalto e o Guilhermer estava consciente. O mesmo não acontecia com o Glauco. Ele estava inconsciente e tentamos a todo custo fazê-lo acordar. Foi feita massagem cardíaca, e quando chegou o socorro os médicos fizeram desfibrilamento, injetaram adrenalina, sem sucesso. Glauco morreu, provavelmente por hemorragia interna. Ninguém sabe exatamente como aconteceu, mas uma perícia prévia diz que o Guilherme caiu (segundo consta um parafuso da roda se soltou) e o Glauco que vinha atrás bateu nele. Sabemos que os dois haviam bebido bastante, e isso com certeza foi uma das causas do acidente, pois a bebida diminui em muito nossos reflexos e a capacidade de atenção.
Ao falar com o Guilherme por telefone, dias depois do acidente, ele me relatou que ao que tudo indica o Glauco não largou a moto na hora da queda. É provável que a lesão que causou a hemorragia pode ter sido causada pela moto. É muito comum, nos acidentes com motos, ela se tornar mais perigosa que a queda no  asfalto, porque quando o motociclista não se desvencilha dela, é atropelado pelo próprio veículo.
O clima ficou horrível e atrapalhou o resto do evento. Eu fui direto para o hospital para ver como estava o Guilherme e depois para o hotel assistir ao jogo da seleção brasileira.
No domingo, como eu havia programado, seguimos para Carolina(MA), a 108km de Araguaína. Para chegar a Carolina a estrada é a TO-222, e depois de chegar a uma localidade conhecida como Filadélfia, pega-se uma balsa e do outro lado já é Carolina. A balsa leva apenas 5 minutos para fazer a travessia e paguei R$5,00 para levar a moto.
No início do século XX Carolina foi a cidade mais próspera do Sul do Maranhão. Nesta cidade foi construída a primeira hidrelétrica da Amazônia, na década de 40. Com a fabricação de sabonite e óleo comestível (foi a primeira em todo Nordeste) o movimento de pessoas e produtos se tornou até mesmo maior que São Luís, capital do Estado.
Carolina fica na região da Chapada das Mesas. A vegetação predominante na região é o cerrado. O nome veio por causa de seus platôs, parecidos com "mesas". Isso deve-se aos paredões de rocha de arenito formados há milhões de anos.
Com a construção da rodovia Belém-Brasília (BR-010) fez com que o fluxo de produtos e pessoas passasse por Estreito e Imperatriz, não mais Carolina, reduzindo em muito a economia local. Atualmente Carolina é uma cidade pequena, pacata, que vive da ambudância de suas águas que atraem os cerca de 40 mil turistas o ano inteiro.
O melhor período para visita é julho e agosto. Neste período, mais seco e quente, turistas dos estados próximos visitam a cidade, em busca da natureza e do frescor das águas.
As Cachoeiras do Rio Farinha, que se localizam a 100 km só são visitadas por aqueles que têm carros com tração 4 x 4, para agüentar as antigas estradas de tropeiros que levam às quedas.
Quando chegamos a Carolina, por volta das 13h, a cidade estava deserta, mas as pousadas (cerca de 50) estavam todas ocupadas. Os visitantes estavam todos nas cachoeiras próximas, e o final de semana prolongado lotou a cidade. Saímos atrás de acomodações até que um senhor dono de uma pousada, e também de um motel, ofereceu-nos um quarto de seu motel para ficarmos. Sem muita escolha aceitamos – era isso ou dormir na rua. Chegamos ao motel, desfizemos as malas e rumamos para a cachoeira Pedra Caída, que fica a 35 km de Carolina. Chegamos por volta das 14h30 na entrada da cachoeira. Na verdade mais parece um clube, com restaurante e tudo. Você paga R$ 5,00 por pessoa para ter acesso à piscina de água natural, e mais R$ 15,00 para ter acesso à cachoeira. Também tem tirolesa, a R$ 30,00 por pessoa (um verdadeiro roubo).
Para chegar à cachoeira utiliza-se uma trilha em pontes de madeira, por dentro do mato. Quando se chega à cachoeira a ponte faz zigue-zague em declive de uns 50 metros de altura. O cânion onde fica a cachoeira forma embaixo um córrego, sobre o qual caem águas que brotam das rochas, formando chuveiros naturais belíssimos. O visitante pode andar por cima de pontes de madeira adentrando o cânion. Tudo é tão bonito, e não foi melhor a visita porque estava lotado de turistas.
O cânion vai afunilando a cada metro e, de repente, entra-se em um grande salão cônico de onde despenca a Cachoeira Pedra Caída. Neste lugar, a cachoeira torna-se concentrada, de grande força. Quando se olha para cima a impressão é que estamos em uma caverna com uma piscina no fundo. Visão fantástica.
Saímos do local ao final da tarde, tomamos banho no motel e fomos conhecer melhor o centro da cidade. Paramos para tomar um sorvete ao preço incrível de R$0,50 uma bola (isso mesmo: cinqüenta centavos). Uma feliz coincidência nos fez encontrar o grupo de motociclistas Lentos do Asfalto de Castanhal. Eram uns oito motociclistas. Eles chegaram à cidade no dia anterior. Pessoal muito animado, fizeram de tudo para que ficássemos mais um dia, mas infelizmente não poderia faltar ao trabalho.
No dia seguinte saímos de Carolina às 6h09. Pegamos a BR-010. Paramos para almoçar novamente em Dom Eliseu e chegamos a Belém às 22h. Foram 810 km na volta e mais de 16 horas de viagem. Sem atropelos, nem pressa.
Quando andamos com garupa a viagem se torna mais lenta. As duas pessoas querem parar em momentos diferentes, até mesmo porque a vontade de ir ao banheiro não pode ser sincronizada. O garupa sofre um pouco mais, porque segue parado no banco, por isso muitas vezes o garupa sente mais sono. Com minha filha não foi diferente, principalmente na volta. Mas ao mesmo tempo o garupa presta mais atenção nas coisas, na paisagem.
Ao final, o saldo foi extremamente positivo. Aproveitei a viagem para estar um tempo sozinho com minha filha, para fazermos coisas juntos. Uma viagem de moto requer companheirismo, a gente tem que compartilhar até mesmo o perigo das piores horas. É necessário ainda dividir tarefas, idéias. Fazemos amigos pelo caminho e isso tudo se faz junto.
Com certeza foi uma viagem que marcou a nossa vida, com uma lembrança que ficará marcada em nosso relacionamento. Quem sabe um dia, quando eu não estiver mais aqui, minha filha falará desse momento para meus netos, uma aventura que viveu com seu pai.

GPS
Durante toda a viagem utilizei o GPS. Porém, ele serviu muito mais como referência. Para minha decepção, os mapas do Pará não estão corretamente ajustados à localização real de estradas e cidades.Por exemplo: você está no centro da cidade e no GPS parece que você está a 5 km do centro. Desta forma, a maior parte do tempo no GPS aparecia que eu estava fora da estrada. O mais curioso era que em alguns trechos simplesmente o GPS não conectava o satélite, principalmente na estrada para Axixá. Ao contrário do que se pensa, um GPS não pega "em qualquer lugar". Existem lugares que são verdadeiras "sombras" para o GPS. Isso não só ocorreu aqui no Pará, mas também no estado de Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Utilizei muito o GPS para cadastrar a localização exata (com coordenadas) de Pontos de Interesses, como postos de gasolina, hotéis, restaurantes.
O único lugar que o GSP realmente ajudou foi em Araguaína. Por incrível que pareça naquela cidade ele me quebrou o maior galho, evitando que eu tivesse que ficar perguntando para as pessoas os endereços. Talvez por Araguaína ser uma cidade planejada, o GPS estava com o mapa atualizado.

Números:

Km rodados: 2.110
Média de consumo: 21,13 km/l
Melhor consumo: 26,5 km/l
Pior consumo: 17,88 km/l
Obs.: a moto se mostrou mais econômica com combustível aditivado. Apesar da Honda não aconselhar o uso de gasolina aditivada, o fabricante parece não levar em conta a péssima gasolina vendida no Brasil e a venda de combustível adulterado, principalmente nos postos de combustível de beira de estrada. Percebi uma melhora significativa do consumo após o uso do aditivo Bardahl.
A velocidade média para garantir o melhor consumo situa-se na faixa de 80-100 km/h.
Observamos, segundo dados da ANP, que a maior quantidade de postos no Pará autuados por adulteração de combustível são "bandeira branca". Curiosamente, dentre os postos com bandeira de distribuidoras, a maioria são postos BR. Talvez por isso esta distribuidora tenha criado o projeto "De Olho no Combustível". Para saber quais postos no Pará foram autuados por vender gasolina adulterada clique no link http://www.anp.gov.br/doc/fiscalizacao/fiscaliza_pa.pdf

Como carregar bagagem

Quando estava voltando de Carolina(MA) para Belém, pela BR-010, passei por um motociclista carregando uma estranha bagagem. Achei super interessante como ele conseguiu transportar aquelas galinhas, e aprendi um pouco com ele sobre como dividir o peso e carregar o "incarregável" (aprendi essa palavra no dicionário do ex-ministro Magri). Divido a foto com vocês - e palmas para ele. Pela criatividade, pelo menos. Os motociclistas que moram em comunidades distantes conseguem as mais criativas soluções que fazem da motocicleta um transporte alternativo altamente econômico, prático e útil. Isso mostra como a motocicleta presta um serviço que ajuda a milhares de pessoas, que além de viverem distantes dos grandes centros, não possuem poder econômico para ultrapassar as dificuldades impostas pelas distâncias.
Clique na foto para ampliá-la.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Qual é sua tribo?

Já li muitos artigos na internet sobre o que é ser um motociclista. Na verdade, bem ou mal, sabemos o que é ser um motociclista, independente de conceitos elaborados depois de muitas horas de reflexão. Por isso neste post prefiro falar sobre os mais diversos tipos de motociclistas. Eles são oriundos de todas as raças, de todos os credos, de todos os países, classes sociais. Esse movimento utltrapassa limites, mesmo os mais comuns, aqueles que nos colocam em quadrados chamados "classes sociais".
Muito embora o poder aquisitivo crie grupos distintos de motociclistas, a paixão por motos nos une. Uma paixão que não dá para explicar, porque é como perguntar para uma mulher "por que ela quer comprar mais um sapato, se já tem tantos".
Dentro do motociclismo existem pessoas de comportamentos distintos, personalidades distintas, origens distintas. Alguns preferem motos de custom, outras preferem motos sportivas. E ainda um terceiro grupo tem tudo quanto é tipo de moto.
Normalmente os motociclistas são identificados por um estilo, que invariavelmente influencia o tipo de moto que possuem. Esse estilo tem origem nos gostos e afinidades desenvolvidas pelos motociclistas, e pelo tipo de vida que gostam de levar. Mas realmente tudo isso é secundário, pois o principal é andar de moto, viajar de moto, ter a sensação de liberdade e de encontro com o vento e o sol.
Custom
Motociclista estilo custom normalmente veste roupas de couro, gosta de colocar bandana na cabeça, enche a jaqueta de botons e, muitos deles, são cheios de tatuagem. Existe ainda os mais radicais, que fazem o estilo Hells Angels, com as barbas e os cabelos compridos e cara de mau. Este tipo adora os cromados das motos, assim como personalizar ao máximo suas máquinas.
Suas motos são uma extensão de suas personalidades e velocidade "não é o seu barato". O negócio é curtir a sua moto, e extrair dela todo o prazer que tem direito.
Usam muito capacetes tipo coquinho, abertos. Também preferem cores escuras para suas roupas, principalmente o preto.
Harley Davidson é um ícone para a maioria deles, e nos finais de semana passam muito tempo polindo os cromados de suas máquinas.
O som dos motores de suas motos é música para seus ouvidos, e muitos tiram o miolo da descarga para ficar um som mais encorpado.
Vivem procurando apetrechos para tornar a moto mais bonita, e não é difícil encontrar muitas delas cheias de "penduricalhos".
É muito comum encontrar em suas motos caveiras, seja na pintura, seja em objetos cromados que as enfeitam. Gostam de serem vistos como uma grande irmandade, e se consideram muitas vezes os legítimos "motociclistas". Seu filme preferido é Easy Rider sua música tema é Born to be Wild.
É muito comum encontrar motociclistas deste grupo que incorporam o espírito em tudo em suas vidas, mesmo nas suas atividades profissionais. Por isso alguns deles seguem profissões ligadas ao motociclismo, como tatuadores, donos de lojas de peças e acessórios, mecânicos.
Fazem questão de serem vistos como motociclistas e usam a moto sempre que podem, sendo que alguns nem mesmo possuem carro, "para não trair seus princípios".

terça-feira, 25 de agosto de 2009

6º Encontro Motociclístico de Araguaína

Acontecerá nos dias 04, 05 e 06 de setembro (Semana da Pátria) o 6º Encontro Motociclístico de Araguaína (TO).

Estou montando um grupo para sair de Belém e participar do encontro. Além da programação, estou planejando visitar Carolina, no Maranhão, que é bem próximo, que possui belíssimas cachoeiras e uma natureza exuberante.

Serão cerca de 830 km até Araguaína, com saída prevista no dia 03/09, às 5h, da panificadora Trigal (BR-316 embaixo do viaduto do Coqueiro).
O grupo contará com um equipamento GPS de modo a garantir a segurança da viagem.
Faremos uma grande confraternização com os amigos do Falcões de Aço http://www.falcoesdeacomg.com.br/, motoclube organizador do evento, que fizeram um convite especial aos motociclistas de Belém. Já disseram que irão matar um carneiro.

Haverá shows de rock, apresentação de manobras radicais, feira de acessórios e roupas, entre outras coisas.

Além do evento, o mototurista também poderá conhecer as inúmeras cachoeiras da região, assim com o lagos. Para saber mais sobre turismo em Araguaína acesse http://www.achetudoeregiao.com.br/to/araguaina/turismo_araguaina.htmachetudoeregiao.com.br/to/araguaina/turismo_araguaina.htm
Outra cidade que iremos conhecer é Carolina (MA), que fica a 100 km. Conheceremos a cachoeira da Pedra Caída.

Cachoeira da Pedra Caida

Quem gosta de desafios e contato de primeiro grau com a natureza vai se sentir em casa. Cachoeiras, trilhas ecológicas e mergulhos em rios de águas cristalinas estão entre as alternativas de passeio. Mas vamos por partes: chegando em Carolina, o ideal é organizar imediatamente um passeio a Pedra Caída, a cachoeira que reina absoluta na região. O lugar é fascinante e conta com estrutura (bar, restaurante), para um dia inteiro de diversão. São Romão, Prata e Itapecurizinho são outras cachoeiras que merecem uma visita, principalmente para amantes de esportes radicais, como o rappel, que começa a ser praticado na região. Caminhadas ecológicas em trilhas através dos cerrados (vegetação típica da Chapada, equivalente às savanas africanas) e banhos em rios são indispensáveis.
Cachoeiras, trilhas ecológicas, belas paisagens. São inúmeras as surpresas que uma viagem à Chapada das Mesas pode revelar ao viajante. As principais cidades do pólo são Imperatriz, Carolina e Riachão, circundadas por um mundo mágico e grandioso.
Fonte: http://ecoviagem.uol.com.br/brasil/maranhao/carolina/

Fotos de Carolina: http://www2.uol.com.br/mochilabrasil/foto_carolina01.htm

Vídeo do Evento de 2008:


Aqueles que quiserem saber mais sobre a viagem, e outras informações, poderão enviar e-mail para charlesbenigno@hotmail.com e contato pelo fone (91)8146-9050.

sábado, 22 de agosto de 2009

Moto Clubes no Brasil

No Brasil, a primeira associação, fundada em 1927, foi o Moto Club do Brasil, sediado na Rua Ceará, na Praça da Bandeira, no Rio de Janeiro, onde hoje funciona uma boate underground chamada Garage. A Rua Ceará é referência para motociclistas, pois ali estão as sedes de alguns dos Moto Clubes mais tradicionais (Balaios, Carcarás, Desert Eagles, além dos Abutres, cuja sede fica na rua ao lado). Durante o dia, funcionam diversas oficinas especializadas em consertos e personalização de motocicletas e triciclos e algumas lojas de peças de motos e produtos para motociclistas.
Quando a noite cai, o movimento da rua cresce com os frequentadores da Vila Mimosa (zona de meretrício que ocupa ruas próximas), que se misturam com os jovens que frequentam o Garage e os motociclistas que procuram os bares da Rua Ceará. O mais famoso deles é o Heavy Duty, cujo proprietário, Zeca, é também motociclista, integrante dos Balaios. Nos fins de semana sempre acontecem reuniões de motociclistas e, uma vez por mês, o Zeca promove um grande e concorrido churrasco em plena rua, que fica totalmente tomada pelas motocicletas.
Alguns anos depois, mais precisamente em 1932, surgiu o Motoclub de Campos. Lá fora, nesta época (década de trinta) estavam surgindo Moto Clubes com tendências mais rígidas e muitos acontecimentos vieram a denegrir a imagem dos motociclistas, principalmente pela imprensa sensacionalista da época, que acusava os motociclistas de arruaceiros e desordeiros. Mais tarde, algumas produções de Hollywood serviram para incentivar verdadeiros predadores a criarem Moto Clubes e constituir verdadeiras gangues, o que fez da década de 50 uma página negra na história do motociclismo. Aí está o porquê do motociclista, ainda nos dias de hoje, ser muitas vezes visto como mau elemento. Mas isso está mudando, pena que ainda somos confundidos com motoqueiros que aparecem em nossos encontros fazendo arruaça (estouro de escapamento, borrachão com pneu etc.) ou até mesmo promovem encontros que são, na verdade, feiras comerciais e nada a têm a ver com nossos princípios.
Mais tarde, já na década de 60, as motocicletas voltaram a ser tema de Hollywood com Elvis Presley, Roustabout e Steve McQueen com A Grande Fuga, uma série de filmes que chegou ao seu auge com Easy Rider, de 1969(assista ao trailer). Finalmente inicia-se a mudança da imagem do motociclista com o início da fase romântica do motociclismo, que perdurou até o final da década de 70. Este período fixou o motociclista como ícone de liberdade e resistência para o sistema. No Brasil nessa época surgiu em São Paulo-SP o Zapata MC (1963) e, já no final da década, no Rio de Janeiro, o Balaios MC (1969), grupo este que já seguia os novos padrões internacionais e o princípio de irmandade.
A partir da década de 70, viu-se o surgimento de diversos Moto Clubes pelo mundo, a maioria já seguindo o princípio de hierarquia e irmandade. No Brasil, a popularização iniciou-se na década de 90, quando diversos fatores já contribuíam como a disseminação de marcas de motos pelo mundo e a liberação da importação pelo governo do presidente Collor. Hoje muita coisa anda desvirtuada, Moto Clubes são criados à revelia, por pessoas que desconhecem a história e sequer sabem o significado de um brasão e muito menos seguem o princípio de irmandade. Os Moto Clubes autênticos são forçados a criar campanhas para evitar abusos e coibir arruaceiros em seus eventos, em contrapartida a cada dia são criados novos eventos que nada têm a ver com as tradições, na verdade são eventos que enriquecem empresários que se aproveitam da popularidade para atrair admiradores de motos, já que os motociclistas autênticos passam longe.

MOTOCICLISTAS CRISTÃOS
Um movimento mais recente, mas extremamente importante para a formação da imagem do moto clube perante a sociedade, é a consolidação de moto clubes cristãos e de cunho social. Estes grupos, preocupados em estabelecer um movimento cuja base seja a vida cristã, a família e a ajuda ao próximo, ajudam a melhorar a imagem dos moto clubes perante a sociedade. E mostram ainda, que motociclismo nada tem a ver com violência, arruaças e rebeldia. Pelo contrário, é a união de pessoas em torno de uma paixão, a motocicleta.
Alguns motoclubes deste tipo:

Águias de Cristo http://www.aguiasdecristo.com/
Motociclista de Última Geração http://www.mugmotoclube.com.br/
Moto Clube Cristão Tribo de Judá http://www.8p.com.br/mctribodejudasp/flog/#
Esquadrão de Cristo http://www.esquadraodecristo.com.br/portal/

MOTO CLUBES NACIONAIS MAIS ANTIGOS

1927 - Moto Clube do Brasil
1932 - Motoclub de Campos
1947 - MC de Petrópolis (Fundado em 13 de Março de 1947, registrado em 15 de Maio de 1951).
1963 - Zapata M.C.1969 - Balaios M.C.

Obs .: é importante ressaltar que a ordem acima apenas cita as agremiações mais antigas que usavam ou ainda usam o Termo "Moto Clube". Lembramos, no entanto, que desconhecemos seus propósitos sendo importante ressaltar que existem outras agremiações as quais não podemos precisar as datas, mas que também existiram, como Piratininga MC e Centauro MC.

O MAIOR MC NO BRASIL E NO MUNDO

O maior MC no Mundo: HELLS ANGELS MC (EUA - Fundado em 1948 em San Bernadino).
No Brasil: ABUTRE'S MC - Raça em Extinção (Fundado em 1989, sede nacional em São Paulo-SP).

Algumas definições: MC: Sigla de abreviatura de Moto Clube, em inglês: Motorcycle Club. Moto Clube ou Motoclube: no Brasil a forma correta é Moto Clube separado, em inglês seria Motorcycle Club. Essa regra só não é válida para nomes próprios como "Motoclub de Campos".

IMPORTANTE
É preciso fazer um esclarecimento sobre a forma de se referir a quem anda de moto: muitas pessoas, desavisadamente e sem intenção de ofender, nos chamam de motoqueiros, sem saber que muitos se ofendem seriamente com este tratamento. Nos dicionários, motociclista e motoqueiro significam a mesma coisa: pessoa que anda de moto. Mas, no meio motociclísitco, existe uma diferença: motoqueiro é aquele que pilota fazendo bandalha (passa pelas calçadas, quebra espelhos dos carros, etc), desrespeita as leis de trânsito, faz arruaça em eventos. Motoqueiro não é o entregador de pizza ou motoboy, como muitos pensam.

Uma Breve História dos Moto Clubes Americanos

adaptado de William L. Dulaney




A tradução literal da expressão "Outlaw Motorcycle Clubs" significa moto clubes “fora da lei”, no entanto, como o termo foi usado pelo autor no sentido conotativo, simplesmente definindo “fora da lei” como aqueles moto clubes que não faziam parte da AMA, preferir manter o termo na língua de origem. O principal motivo dessa decisão foi evitar com que pedaços do texto traduzido se espalhassem pela internet sem a devida menção da fonte (coisa comum na rede) e fossem mal interpretados, servindo de argumento para que alguns “informados” começassem a comentar que os moto clubes americanos iniciaram-se pela irmandade de homens fora da lei.
Tenham que esta tradução foi feita no intuito de trazer um pouco da história dos moto clubes americanos e o porquê das muitas peculiaridades dos mesmos. Oportunamente, pretendemos escrever sobre a diferença dos moto clubes brasileiros em relação aos americanos e qual a nossa vantagem em relação a isso.
Por fim, esta tradução foi feita de forma livre e o tradutor não se responsabiliza por erros que eventualmente tenham ocorridos (procuramos ser fiel à idéia do autor tanto quanto o possível, no entanto, não nos mantivemos fiel ao texto origianal).

O surgimento dos Outlaws M.C. e as primeiras aventuras sobre duas rodas

Provavelmente o primeiro moto clube que apareceu após a grande depressão e que se mantem vivo até hoje é o Cook Outlaws M.C. (1936). Esse grupo era radicado em Cook, cidade de Illinois e mantinha seu território até Chicago. O Cook Outlaws M.C. tornou-se mais tarde o Chicago Outlaws MC e hoje é conhecido como Outlaws Motorcycle Club ou Outlaws MC. De acordo com um membro dos Outlaws MC, na estrada há mais de vinte e cinco anos, os integrantes mais antigos da sua organização reuniam-se para fazer grandes viagens. Em uma época em que as embreagens eram acionadas pelos pés e as estradas eram extremamente ruins, essas excurssões eram verdadeiras aventuras sobre duas rodas. Em alguns trechos era necessário escalar montes e percorrer trilhas lisas com ½ km de distância ou ainda se equilibrar em trilhas ovais sobre placas de madeira. Um aspecto secundário dos motociclistas era o consumo maciço de álcool e a devassidão amigável, que era geral.
O símbolo dos Outlaws M.C. era gravado na parte de trás dos coletes e consistia simplesmente no nome do clube; as vestes e os revestimentos de couro, assim como o escudo e símbolos de cada facção não existiam no princípio. É interessante notar que de acordo com o site do Outlaws M.C. (http://www.outlawsmc.com/), o logotipo do moto clube (isto é “Charlie,” um crânio centrado sobre dois pistões e bielas cruzadas, similares a bandeira do pirata Jolly Roger) foi influenciado pelo vestuário do filme The Wild One (veja trecho do filme abaixo), estrelado por Marlon Brando em 1953.




No Motoclube mais antigo só entra mulheres

Em um universo basicamente masculino, é um moto clube feminino chamado Motormaids http://www.motormaids.org/ que mantêm o título de moto clube mais antigo (fundado em 1940 e que atualmente conta com mais de 1200 membros entre os Estados Unidos e Canadá) de acordo a American Motorcyclist Association Club – AMA. O Outlaw M.C. reivindicou uma linhagem ligeiramente mais longa, no entanto, como este realizou pelo menos duas modificações em seu nome no decorrer do tempo, não conseguiu lograr êxito. As Motormaids M.C. mantiveram uma identidade singular e uma estrutura hierárquica interna igual desde seu início.
Por este motivo é o clube de motocicleta mais velho do mundo, mais velho inclusive que o clube mundialmente famoso Hells Angels M.C. que teve origem em 1947.

O fim da II Guerra e o surgimento de uma nova filosofia para os Moto Clubes

O ataque japonês a Pearl Harbor que levou ao envolvimento dos EUA na segunda guerra e o conseqüente alistamento compulsório de jovens fez desacelerar o crescimento dos moto clubes no país, contudo, o som das bombas japonesas que explodiram em Pearl Harbor podia significar qualquer coisa, menos a morte dos moto clubes, na verdade, ocorreu exatamente o contrário.
Com o fim de Segunda guerra mundial milhares de jovens regressaram para casa. Alguns combatentes haviam sido treinados para guiar motocicletas em plena guerra, especificamente Harleys e Indians. Outros, que não haviam trabalhado diretamente com motocicletas, eram levadas a andar nas mesmas para aliviar a pressão do conflito armado. Por fim, dificilmente se encontraria algum soldado americano que tenha participado da 2ª Guerra que não tenha guiado uma motocicleta.
Um ponto é interessante destacar. Os homens que participavam de um pelotão, fossem eles fuzileiros navais, infantaria, reconhecimento etc. eram disciplinados a cuidar do seu parceiro do início ao fim dos combates. As constantes incursões de guerra altamente fatigantes desenvolveram um alto nível da interdependência nos membros de um pelotão. Durante os combates reais vivenciaram a morte lado a lado, bem como o gosto por matar o inimigo, entre outras atrocidades. Neste campo de vida e morte os homens transformaram-se em irmãos e muitos veteranos da 2ª guerra trouxeram esta irmandade para a vida civil.
Muitos desses soldados não conseguiram suportar a transição do ambiente de guerra para a monotonia da existência civil, buscando,assim, outra forma de viver.

O stress pós-traumático e a formação psicológica dos motociclistas americanos

Ao regressarem da guerra, os combatentes foram aposentados e se afundaram na bebida em uma tentativa desesperada de afogar as memórias da batalha, buscando curar de qualquer forma as cicatrizes do conflito armado. Eles buscavam a todo custo se sentirem humanos. É importante considerar as idades destes homens: a idade média dos recrutas era de 26 anos. Muitos combatentes, ao retornarem, relataram sentimentos de descontrole e inquietação; suas personalidades anteriores à guerra tinham sido mudadas para sempre. Estes homens apresentavam variados graus de stress pós-traumático (PTSD). Esta desordem psicológica só foi diagnosticada oficialmente a partir da década de 1980. O centro nacional para a o stress pós-traumático define a desordem como:

“Uma desordem psiquiátrica que pode ocorrer após uma experiência ou ao testemunho de eventos traumáticos, tais como combate das forças armadas, desastres naturais, incidentes terroristas, acidentes sérios, assaltos pessoais violentos e estupros. As pessoas que sofrem de PTSD frequentemente revive a experiência com pesadelo e flash back, têm a dificuldade para dormir e sentem-se destacados ou distantes das outras pessoas. Estes sintomas podem se tornar graves impedindo o cotidiano da pessoa afetada”.

Os pesquisadores encontraram em alguns veteranos de guerra efeitos relevantes do PTSD. Estes se envolveram atividades pessoais e de lazer que foge dos padrões comuns, tais como o motociclismo. Assim, parece lógico que os horrores da guerra e o inferno do combate podem ter modificado as personalidades pré-guerra destes homens para sempre. Foi construída uma nova personalidade que não cabe bem com a cultura do americano “normal”.
Não deve ser surpresa nenhuma que quando estes homens retornaram a vida cotidiana e recomeçaram seus trabalhos batendo ponto, vestindo ternos, fazendo relatórios, batendo martelos ou consertando automóveis, logo começaram procurar atividades de “lazer” que lançasse adrenalina em altas doses no corpo. Assim, os veteranos passaram a buscar os efeitos residuais de suas experiências do tempo de guerra procurando antigos companheiros que pudesse trazer o espírito de irmandade e talvez reviver alguns dos aspectos sociais mais selvagens da época da guerra. Logo as motocicletas americanas transformaram-se parte desta equação. Primeiro, devido ao nível elevado de adrenalina que as mesmas proporcionavam. Segundo, devido à característica anti-social e a imponência que as motos possuíam.

O incidente de Hollister e a formação dos Outlaw Motorcycle Clubs

O período de formação parece alcançar seu auge com o incidente de Hollister, Califórnia, em 4 de julho de 1947. Esse episódio, que foi objetivo de reportagem pela Revista Life, misturado ao novo perfil dos motociclistas foi a mistura ideal para que os moto clubes não ligados a AMA emergissem.
Como declarado acima, apenas aos membros da AMA que recebiam o certificado de moto clube era permitido competir. Sendo assim, o mundo de competição era um fator de formação e difusão de moto clubes. A AMA era responsável pela regras relativas aos seus membros, à segurança das corridas, bem como pela imagem familiar que os eventos necessitavam para venda de ingressos.
Aparentemente, em 4 de julho de 2007 uma falha de organização ocorreu dentro da AMA e deu causa a um pequeno incidente em Hollister, Califórnia. Neste fim de semana em particular, ocorreu o encontro de vários clubes da motocicleta, incluindo Pissed Off Bastards of Bloomington (POBOB) e os Boozefighters Motorcycle Clubs, todos atraídos pelas corridas anuais que a AMA promovia por todo os EUA. Como estes eventos eram considerados de primeira linha, levavam uma legião de motociclistas, membros de moto clubes ou não. Naquele dia uma mistura de álcool e adrenalina resultou em incidente inusitado. Membros de moto clubes e não membros passaram a competir nas ruas da cidade consumindo quantidades maciças de cerveja. A algazarra produziu pequenos incidentes, entre eles dano ao patrimônio e ultraje público ao pudor, mas nada parecido com “um cerco à cidade”, como a revista Life noticiou.
A dúvida sobre o que realmente aconteceu em Hollister reside no fato de que a maior parte das pessoas que viveram aquele final de semana já faleceu. Na ausência de testemunha ocular, as opiniões se tornam contestáveis e talvez a verdade nunca apareça. As reportagens da época retratam Hollister como uma cidade tipicamente interiorana que foi abalada pela chegada de motoqueiros arruaceiros que fizeram da cidade um pandemônio, no entanto, há registros de que Hollister já havia abrigado outras corridas de motociclietas, inclusive a própria Gypsy Tour em 1936. Com isso, pode-se afirmar que a cidade calma que as reportagens apregoavam não é verdadeira e deve ser descartada como fonte primária. É certo que uma verdade aconteceu em Hollister, a sua incapacidade de abrigar a legião de motociclistas que se dirigiram àquela cidade em 1997 para comemorar o aniversário de 50 anos do incidente.
Até hoje a cidade de Hollister recepciona o evento (http://www.hollistermotorcyclerally.com/) em comemoração a este incidente, que se tornou um fator turístico para a cidade. Devido à crise americana, em 2009 não haverá o evento.

Explicando o incidente de Hollister

O mito de 4 de julho de 1947 em Hollister pode ser atribuído a único fato. De acordo com alguns relatos, Barney Peterson, um fotógrafo do San Francisco Chronicle, publicou a foto de um motociclista bêbado equilibrando-se precariamente sobre uma motocicleta Harley-Davidson, cercado por cascos de cerveja quebrados, segurando uma cerveja em cada mão com a seguinte manchete:

E assim é a América (and thus, America’s). O San Francisco.

Chronicle exagerou na licença literária para o relato do caso. Resumindo, o artigo afirmava que motociclistas realizavam competições em todas as ruas, assim como andavam com suas motocicletas dentro de bares e restaurantes. Para descrever este episódio a revista utilizou palavras como “terrorismo” e “pandemônio”. Também afirmavam que as mulheres que acompanhavam os motociclistas eram qualquer coisa, menos senhoritas americanas. O artigo serviu para insuflar os ânimos na região e logo apareceram os primeiros desentendimentos com resultado morte. A revista Life, em 21 de julho de 1947, aproveitando o momento, publicou um artigo usando a mesma foto do motociclista bêbado com o seguinte título: “Ele e os seus amigos aterrorizam a cidade” (Cyclist’s Holiday: He and Friends Terrorize Town). O artigo afirma que quatro mil membros de um moto clube eram responsáveis pelo tumulto. Sabemos que foi um exagero espetacular. De acordo com a maioria das estimativas nenhum moto clube pode se vangloriar de ter conseguido juntar, pelo menos, a metade desse número, ainda mais naquela época.

A origem dos Moto Clubes 1% e outras mumunhas mais

O artigo com meras 115 palavras colocado logo abaixo de uma imagem gigantesca de um motociclista aparentemente bêbedo causou tumulto por todo país. Alguns autores afirmaram que o AMA liberou para imprensa uma nota que desmentia a sua participação no evento de Hollister e indicava que 99% dos motociclistas eram pessoas de bem, cidadãos cumpridores da lei, e que os clubes de motociclistas da AMA não estiveram envolvidos na baderna. Entretanto, a associação americana do motociclista não tem nenhum registro de tal nota. Tom Lindsay, diretor da informação pública do AMA, em nota declarou que “nós [AMA] reconhecemos que o termo 1% há muito tempo é atribuído a AMA (e provavelmente continuará a ser), mas em nenhum momento conseguimos identificar em nossos registros esta citação ou a indicação de que a AMA tenha publicado, por isso acreditamos que sua criação seja apócrifa.”
A revista Life publicou comentário de pelo menos de três pessoas, um delas era Paul Brokaw, um editor proeminente de um periódico chamado Motorcyclist. Brokaw castigou a Revista Life considerando a imagem publicada totalmente descabida.

Parece prudente fornecer o teor inteiro da mensagem de Brokaw, ao editor da Life:

Senhores,

As palavras mal servem para expressar meu choque em descobrir que o retrato do motociclista [veja The Life julho 21, 1947:31] foi obviamente preparado e publicado por um fotógrafo interesseiro e sem escrúpulos.

Nós reconhecemos, lamentavelmente, que houve uma desordem em Hollister - não ato de 4.000 motociclistas, mas de um por cento desse número, ajudada por um grupo de não motociclistas e apostadores. Nós, de forma alguma, estamos defendendo os culpados - de fato é necessária uma ação drástica para evitar o retorno de tais comportamentos.

Entretanto, vocês devem entender que a apresentação dessa foto macula, inevitavelmente, o caráter de 10.000 homens e mulheres inocentes, respeitáveis, cumpridores das leis e que são os representantes verdadeiros de um esporte admirável.

Paul Brokaw
Editor, Motorcyclist
Los Angeles, Calf.


Na carta acima, Brokaw indica claramente que os acontecimentos ocorridos em Hollister têm como origem pessoas anônimas. É importante frisar que Brokaw não indica quem são essas pessoas, mas de certa forma fala em nome da AMA. Interessante, Brokaw declara que nenhuma ilegalidade ocorridas em Hollister foi realizado pelos 4.000 motociclista, “mas um por cento desse número.” Parece lógico, na ausência de uma nota real da AMA sobre o assunto, que esta carta tenha sido a origem do termo “um por cento.”
Uma outra carta publicada na mesma edição da Life, escrita por Charles A. Addams, define como sendo ilusória a idéia de que a metade da população do motociclista de Hollister eram membros da AMA. De acordo com Addams, “os quatro mil ‘motociclistas’ não eram todos os membros de um clube. Da AMA estavam presentes aproximadamente 50% do total e os outros 50% era motociclistas comuns que estavam aproveitando os três dias de feriado. Apenas cerca de 500 ‘motociclistas' eram os responsáveis pelo desastroso evento de Hollister.” Quando combinadas, as cartas de Addams e Brokaw explicam o motivo que muitos afirmam que a AMA seja a dona da afirmação “um por cento”. Em carta a revista Life, Addams estabelece a possibilidade de uma considerável presença da AMA no evento e Brokaw parece estar falando em nome de uma organização em que o motociclismo é um estilo de vida. Assim, parece lógico concluir que estas duas cartas ao editor da revista Life sejam a origens do mito “um por cento” e da condenação da AMA. Observe que Brokaw, em sua carta, não fala claramente em nome de do AMA, mas ao longo do tempo as pessoas passaram a interpretar como tal.
Enquanto os motociclistas comuns e as moto-organizações estavam tentando se distanciar do ocorrido em Hollister, clubes tais como o Boozefighters buscaram se enquadrar a ele. Assim, temos que o evento de Hollister de 1947 foi o fomento que falta para a consolidação dos moto clubes não alinhados a AMA, ou seja, os Outlaw Motorcycle Clubs. Deve-se deixar claro que estes clubes nunca pertenceram a AMA, logo não foram banidos ou coisa parecida.

A difusão dos Outlaws Motorcycles Clubs e o conflito do Vietnam

Entre 1948 e princípios dos anos 60 os clubes de motociclistas (não aliados a AMA) se espalharam para fora da Califórnia estabelecendo um novo capítulo na história do motociclismo nos Estados Unidos. Outlaws Motorcycle Clubs tais como os Sons of Silence Motorcycle Club, surgiram no meio oeste, os Bandits Motorcycle Club no Texas, os Pagans Motorcycle Club na Pennsylvania entre outros. Durante este período, vários membros do Pissed Off Bastards of Bloomington saíram do seu clube e formaram a primeira versão dos Hells Angels Motorcycle Club (HAMC). Igualmente, durante este período, os Boozefighters, um dos Outlaws Motorcycle Clubs originais, começou um declínio rápido no número de membros.
O conflito do Vietnam (1958-1975) pode ser visto como um dos fatos mais recentes que contribuíram para o aumento dos Outlaws Motorcycle Clubs. Se o retorno dos veteranos da 2ª guerra foi um fator que auxiliou na formação desses moto clubes, o conflito do Vietnam foi à pólvora que faltava. Veteranos desse conflito afirmaram que se sentiam humilhados pela população em geral. Chegaram a ser rotulados de baby killers (assassinos de bebês). Alguns foram cuspidos e xingados nos aeroportos e, não poucas vezes, foram recusados em bons empregos, isso tudo após “ter feito seu dever” para com seu país.
Considerando que os recrutas de 2ª guerra tinham em média 26 anos, os recrutas do Vietnam eram adolescentes mal saídos da puberdade. Eram convocados aos 19 anos. Com essa idade já haviam experimentado um dos conflitos armados mais sangrentos na história americana. Iguais aos veteranos da segunda guerra mundial, os meninos do Vietnam viveram o fogo do inferno da guerra. Viram a morte, matando e sendo ferido. Estes homens seriam mudados
para sempre. Sua inocência foi chamuscada em sua origem. Suas personalidades pré-guerra foram carbonizadas e o pó foi varrido para baixo do tapete.

Os Moto Clubes 1% e a ascensão dos Hells Angels M.C.

É nesse caldeirão fervilhante que surgem os moto clubes 1%. Eles emergem em uma escala nacional tendo como suporte o surgimento dos Outlaw Motorcycle Clubs. Para concretizar este nascimento, os clubes dominantes da época foram além. Observando a declaração atribuída a AMA, buscaram para si a responsabilidade de fazer parte daquele 1% que foi apontado em Hollister. Assim, criaram uma organização sem regras explícitas, não alinhados a AMA, ou seja, assumidamente Outlaw Motorcycle Club e passaram a se identificar por meio de um emblema em forma de diamante com a inscrição 1%. Concordaram também em estabelecer limites geográficos ao qual cada clube de motocicleta teria autonomia.

Um ponto significativo na evolução dos moto clubes 1% se evidenciou no verão de 1964 na Califórnia. Nesta época, dois membros do Oakland Hells Angels Motorcycle Club foram presos e acusados de terem estuprado duas mulheres em Monterey, no entanto, pouco tempo depois foram liberados, devido insuficiência de provas. Esse episódio foi a desculpa que faltava para que o governo do estado da Califórnia voltasse os olhos para os outlaw motorcycle clubs. O Senador Fred Farr exigiu uma investigação imediata sobre os estas organizações, encargo que ficou sob a responsabilidade do general Thomas C. Lynch.
Duas semanas mais tarde iniciaram-se as investigações. No ano seguinte, o General Lynch liberou ao público um relatório que esmiuçava as atividades dos outlaw motorcycle clubs tais como os Hells Angels. O relatório de Lynch pode ser considerado como a primeira tentativa de se classificar os clubes de motocicleta como um perigo para a comunidade e para o estado, entretanto, se resumiu em inferir que estas organizações possivelmente cometiam crimes como sedução de jovens inocentes, estupro e pilhagem de pequenas cidades. O relatório foi largamente contestado, até mesmo dentro das organizações do estado.
A imprensa, no entanto, percebendo que a história dos Outlaw Motorcycle Clubs vendia bem, passou a publicar diuturnamente o lado negativo dessa organização. Talvez Andrew Syder seja o que melhor esboçou o efeito do relatório de Lynch. Segundo ele, o relatório moldou o conceito de moto clube na opinião do cidadão americano e não foi de forma positiva.
Essa afirmação pode ser compreendida quando se observa os noticiários da época.

Fontes:


http://www.outlawsmc.com/home.html
Corvos Moto Clube do Brasil http://www.corvosmc.com/clubes_americanos.htm Acessado em 21 de agosto de 2009.
The New York Times: “Califórnia cria medidas para inibir baderna motociclistas” 16 de Março 1965,
The Los Angeles Times: “Hell's Angels - Ameaça sobre Rodas” 16 de Março 1965.
Time: “Selvagens” 26 de Março 1965.
Newsweek: “Selvagens?” 29 de Março 1965,
The Nation: “Gang de motocicletas: Derrotados e esquisitos” 17 de Maio 1965.
The New York Times: “10.000 na baderna de New Hampshire” 20 de Junho 1965.
Life: “Chega a Desordem” 2 de Julho 1965.
Newsweek: “Motociclistas Palhaços,” 5 de Julho 1965.
The Saturday Evening Post: “The Hell's Angels” 20 de Novembro 1965.