terça-feira, 18 de agosto de 2009

Quatro Alemães e Muita Aventura

Esta experiência que vou registrar aqui me tocou por três motivos. O primeiro porque coincidiu com a minha vontade de fazer a mesma coisa. O segundo segundo porque me mostrou que nosso apego a coisas materiais e ao que já conquistamos na vida nos impede de cruzarmos a fronteira e encararmos novas e excitantes experiências. O terceiro porque me fez perceber que Robert Musil tinha uma visão bem verdadeira da vida ao escrever seu livro O Homem Sem Qualidades. No livro ele mostra um personagem que deseja tirar férias da vida. Eu estou me sentindo assim mesmo, e os alemães que vou descrever nesta postagem também se sentiram assim. Por isso Robert Musil foi feliz ao perceber que "...as coisas, e as tendências das coisas, nos comandam. Nós pensamos que inventamos uma moda, ou que somos os únicos a ter aquele desejo. Mas logo descobrimos um exército de outras pessoas desejando a mesma coisa…" Musil resume bem essa nossa condição de vida com uma única pergunta: “Quem ousaria pretender hoje que sua cólera seja realmente sua, quando tanta gente lhe vem falar dela e a compartilha até numa medida maior que a dele?”

Então vamos ao que interessa.

Conheci, por meio de uma amigo chamado Alex, quatro alemães que estão fazendo uma excursão pela América Latina montados em uma BMW R 80 G/S e BMW R80 GS (para saber do que essa moto é capaz clique no link e assista ao vídeo). Uma 1987 e outra 1999, todas duas em ótimo estado de conservação. Estes modelos são precursores da família GS da BMW, que tem como principal referência a GS Adventure. A GS 1987 tem motor boxer de 797,5 cc (55hp) e a 1999 tem motor de 850 cc (as motos atuais possuem motor de 1.200 cc). Eles trocaram os tanques de combustível por outros maiores, de 45 l, o que dá uma autonomia média de 720 km. Eu nunca tinha visto motos com tanque desta capacidade.

Interessante é que mesmo as mais antigas já incorporavam tecnologias que até hoje são difíceis de encontrar em motos novas, como aquecedor de punho.

Os pilotos, marido e mulher, estão acompanhados das duas filhas do casal, uma moça de 15 anos e uma menina de 10 anos. Ike, o marido, é mecânico de motocicletas e isso ajudou na restauração das motos quando foram adquiridas, pois estavam com problemas. Ele mesmo construiu o bagageiro traseiro de uma das motos, em aço. E também preparou a instalação de dois GPS´s. Uma outra coisa interessante é que viajam com intercomunicadores nos capacetes, que são carregados por meio de conectadores ligados à bateria da moto, evitando o problema de ficar sem energia.

Eles começaram a viagem na Venezuela, vindos da Alemanha de avião. Chegaram finalmente a Manaus e de lá seguiram até nossa cidade, Belém, de barco. Em Belém eles ficaram hospedados na casa do Alex, que faz parte de uma comunidade de apoio a motociclistas viajantes, a Brazil Riders.
Seu objetivo é cruzar o Brasil pelo litoral, entrar no Uruguay e seguir até o Ushuaya. Depois visitar vários países vizinhos. Esta viagem durará 1 ano.

Para mostrar as belezes de nossa região para os viajantes, no sábado leveio-os até a Ilha de Mosqueiro. Passamos pelas praias e eles ficaram admirados com o tamanho do rio, parecendo mar. Paramos para tomar um delicioso sorvete de frutas regionais, e as crianças ficaram encantadas com o papagaio de estimação de minha tia Marlett, a Maroca. À noite fomos passear na vila e tomar, é claro, o tradicional "café da vila". Eles provaram tapioca com manteiga e cuzcuz.

No domingo acordamos às 5h45 e voltamos para Belém para nos unimos ao motogrupo Expedicionários da Amazônia, que realiza ações sociais em comunidades carentes. Estas comunidades, em locais de difícil acesso, são bastante necessitadas, e o motogrupo leva cestas básicas, faz atendimento médico básico e orientação jurídica. Também realiza palestras sobre família, educação e outros temas relevantes.

Para chegar à comunidade entramos em uma estrada viscinal na Alça Viária. Foram cerca de 10 km mata adentro, em estrada com muito buraco e alguns trechos de lama. Pura diversão! A comunidade vive da exploração de carvão e farinha. Seguindo pela trilha que leva à comunidade chegamos à beira do rio, e do outro lado é Bujarú.

Não pude ficar até o final do dia, pois tinha compromisso à tarde em Belém. Porém, os amigos motociclistas disseram que o restante da tarde eles passaram tomando delicioso banho no balneário de Bica, às margues da Alça Viária. Eles não estão acostumados com esse calor amazônia e a água fresca do balneário é irresistível.

De Belém eles seguiram pelo litoral, passando por São Luís e outra capitais, até cruzar a fronteira com o Uruguay. Daqui até Porto Alegre são cerca de 7.000 km, então ainda tem muita estrada Brasil adentro.

2 comentários:

Unknown disse...

Charles,
é essa minha intenção ou melhor é este meu sonho pelos países da America do Sul,por mais de um ano fazendo pesquisa a respeito da biodiversidade. Parabéns pelo apoio aos aventureiros, infelizmente parece que não passaram por aqui, os receberia com enorme prazer!

Charles Benigno disse...

É isso aí, Nice. Também senti muita vontade de fazer a mesma coisa.